quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Itajubá e seus encantos - Disco Bens - RECADO - Luiz Celso & Jorge Murad (1986)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

 


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Histórico
    Considerada a mais antiga das artes, a dança é uma manifestação espontânea do ser humano, podendo ser expressa individual ou coletivamente.
    Aparentada aos gestos mais elementares da vida, a dança primitiva logo forjou seus ritmos e seus ritos. Dançar era, ao mesmo tempo, viver, transcender o cotidiano, iniciar-se nos mistérios da vida, da morte e da fertilidade. A dança com o passar dos anos, enriqueceu-se de fórmulas, de construções que se tornaram passos tão numerosos quanto às palavras, encadeando-se traduzindo situações, estados de alma. Utilizando as palavras, depois as batidas de mãos e de pés como acompanhamento, a dança apoderou-se, em seguida, da música. (Larousse, 1995)
    Em 1867 Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875) pintor e escultor Frances disponibilizou um modelo original em gesso denominado “A Dança” (Figura 1) onde evidencia mulheres em movimento circular retratando de forma singular a dança circular e suas vertentes. Obra exposta no Museu d’Orsay em Paris – França.
Figura 1. A Dança de Jean-Baptiste Carpeaux
    Uma pintura de 1910 (Figura 2) de autoria do francês Henri Matisse exposta no Museu do Hermitage em São Petersburgo – Rússia descreve a dança como um grupo de pessoas brincando em roda. Nesse quadro o autor cria uma sensação rítmica através da sucessão de nus dançantes que transmite os sentimentos de libertação emocional e hedonismo.
Figura 2. A Dança de Henri Matisse
    A dança e outras atividades que envolvem movimento corporal muitas vezes são ignoradas no contexto da cura e das terapias que visam o bem-estar, mas elas são membros poderosos desse grupo e tem sólidas ligações com corpo, mente, emoções e espírito.
    A dança é mais natural para os que possuem uma estrutura corporal forte e esguia e propensão à boa coordenação, mas como terapia, a dança e o movimento estão disponíveis e são úteis para todos sem distinção. Quando o tato e a sinestesia estão envolvidos, ela se torna muito útil para pessoas cujos movimentos e coordenação foram prejudicados devido a danos no sistema nervoso. Além disso, a dança e o movimento são úteis ao desenvolvimento do equilíbrio e coordenação, da autoconfiança e da consciência do corpo. Quando realizada até seus limites máximos, a dança como arte proporciona ao dançarino e aos que participam dela uma experiência espiritual sublime. (Peter Albright, 1973).
    A dança circular sagrada ou dança de roda, é uma prática que reúne vários tipos de danças tradicionais folclóricas de diferentes locais do globo. O pesquisador Bernhard Wosien (1908-1986) (Figura 3) foi um bailarino e coreógrafo alemão que teve o interesse em viajar o mundo para conhecer as diversas manifestações de danças tradicionais. Já por volta de seus sessenta anos de idade, Wosien em visita ao vilarejo de Findhom na Escócia, foi convidado a apresentar uma coletânea das danças que havia aprendido durante a sua empreitada. Foi nesse momento que, ao ensinar a dança, compreendeu que já havia encontrado o que buscava: uma dança capaz de expressar verdadeiramente os seus sentimentos. Essa dança, então, foi denominada de dança circular sagrada.
Figura 3. Bernhard Wosien
    O termo “sagrado”, utilizado como adjetivo tem a função de expressar os seus objetivos: capacidade de fazer emergir o respeito ao próximo, o carinho por si e pelo outro e a melhora da autoestima, já que é realizada em grupo. Quando englobada pelo universo místico-religioso, as danças circulares centram-se no conceito de “energia”, já que se acredita que a roda, formada pelas mãos dadas dos praticantes, seja capaz de fazer circular uma energia boa, podendo até ser curativa.
    No Brasil, a prática e o estudo das danças circulares sagradas chegaram de forma técnica e documental na década de 1980, por meio do primeiro instrutor brasileiro Carlos Solano aluno da Fundação Findhorn e aluno de Anna Barton, outro ícone dessa categoria de dança.
    Anna Barton em um dos seus registros descreve a sua história pessoal sobre seu encontro com Bernhard Wosien e a sua entrega ao trabalho de pesquisa com os grupos de estudo de dança circular.
    “... A Dança reúne, cura, inclui, unifica, ensina, emociona, transcende. É uma parte essencial da Nova Era. Sua influência pode se expandir e ajudar a transformar o mundo.” (Barton,2006)
    Segundo pesquisas as funções e benefícios da dança circular são:
  • Trazer leveza, a alegria, a beleza, a serenidade e bem-estar.
  • Proporcionar o trabalho em grupo, sem a perda da individualidade
  • Mostrar a diferença entre as pessoas
  • Desenvolver o apoio mútuo, a integração, a comunhão e a cooperação
  • Proporcionar autoconhecimento e autocura
  • Harmonizar o grupo antes e depois de praticar suas tarefas cotidianas
  • Trazer musicalidade e ritmo para a vida diária
  • Equilibrar o corpo físico, mental, emocional e espiritual
  • Ampliar a percepção, a concentração e a atenção
  • Encorajar as pessoas a ocuparem o seu lugar e o seu espaço
  • Trazer flexibilidade e autoconfiança para a vida
  • Ajudar a combater o estresse e a depressão
    Segundo Rudolf Laban as formas e ritmos de nossos movimentos são poderes através dos quais podem ser realizadas as ações práticas; no entanto, contêm também fortes doses de energia geradora e dão lugar a reações de consequências, ou benéficas ou desastrosas. O homem demonstra, por intermédio de seus movimentos e ações, o desejo de atingir certos fins e objetivos. Podemos referir-nos a estes últimos como sendo valores, tanto de natureza material quanto espiritual. (Domínio do Movimento, 1978)
Danças Circulares Brasileiras
    No Brasil vários autores retratam a dança como um estado de espírito, um reflexo de bem estar e prazer do corpo físico e da mente que requer solidariedade e empenho entre sociedade e comunidade.
    Segundo Nuno Cobra em seu livro “A Semente da Vitória” a ligação do movimento corporal e do espírito se retrata no equilíbrio como um todo.
    “... Para seu perfeito funcionamento o corpo necessita de movimento. Mas movimento ordenado, sem sacrifícios. O esforço faz bem, desde que o prazer o acompanhe. O perfume da natureza, o frescor da brisa, as cores do dia transformam o esforço num conjugado de movimentos-mentalização-espiritualidade...”
    Cristovam Buarque em seu livro “A Segunda Abolição” refere ao exercício da solidariedade como um fator imprescindível à harmonia social, tudo que é feito em grupo e em sintonia retrata de forma ética o equilíbrio.
    “... A elite brasileira está aprendendo as vantagens sociais, econômicas e, sobretudo morais e estéticas do exercício da solidariedade. Isso pode ser um vetor fundamental na mudança social brasileira em direção à nossa segunda abolição...”
    Marcos Mendonça secretário de Estado da Cultura – 1995 no artigo “Cultura: um sinônimo de esperança” destaca a importância da doação do ser humano ao próximo e diz que esse vetor que moverá o mundo globalizado nesse próximo milênio. Autor da lei de preservação do patrimônio e do meio ambiente e da Lei Mendonça de Incentivos Fiscais à Cultura.
    “... A música pode abrir horizontes a menores carentes e a um passo da marginalidade, o teatro pode levar de volta à escola um contingente de meninos e meninas de rua, a dança afasta os jovens das drogas. Ajudar cada um a exercer seu potencial e usar seu lugar no mundo para refazer o universo de milhares de crianças que dependem de cada um de nós é hoje mais que uma frase, que um discurso. É uma obrigação. Fazer da cultura um sinônimo de esperança, essa é a nossa missão.”
    Na busca por identificação de danças tradicionais brasileiras, pode-se verificar que a maioria das manifestações populares desenvolvidas em âmbito familiar, se resume a um grupo de pessoas que se reúnem para comemorar uma data ou relembrar uma ocasião ou acontecimento. Esse evento é cercado de danças circulares que perpetuam a tradição.
    Na dança pode-se identificar a experiência das consciências do ser humano e segundo o professor Paulo Roberto da Silva em seu livro “Consciência e Abundância” as características das consciências predominante e emergente do ser humano se resume conforme tabela 1:
Tabela 1. Consciências
    No Brasil as danças circulares que correm pelas manifestações populares se destacam pelo ambiente familiar que se desenvolvem. As coreografias, formações, musicalidade e instrumentos utilizados são repassados de pai para filho com o objetivo de perpetuação da prática cultural. Entre as mais estudadas de destacam:
    Ciranda. É um tipo de dança e música de Pernambuco, originária da região Nordeste e mais predominante na região de Itamaracá. É praticada pelas mulheres de pescadores que cantam e dançam esperando seus maridos regressarem do mar. Caracteriza-se pela formação de uma grande roda conforme figura 4, geralmente nas praias ou praças, onde os integrantes dançam ao som de ritmo lento e repetido. O ritmo, quaternário composto, lento, com o compasso bem marcado pelos instrumentos conforme figura 5 – com um toque forte do zabumba (ou bumbo), e acompanhado pelo tarol, o ganzá, o maracá, é coreografado pelo movimento dos cirandeiros. São utilizados basicamente instrumentos de percussão.
Figura 4. Cirandeiros

Figura 5. Instrumentos Musicais: Zabumba, maracás, tarol e ganza
    Quadrilha. A quadrilha junina, matuta ou caipira é uma dança típica das festas juninas, dançada, principalmente, na região Nordeste do Brasil. É originária de velhas danças populares de áreas rurais da França (Normandia) e da Inglaterra. Os passos e a movimentação dos pares da quadrilha são realizados em subgrupo, rodas e filas conforme figura 6. A música da orquestra normalmente é composta conforme figura 7, por zabumba ou bumbo, sanfona e triângulo. Os ritmos mais tocados são: forró, xote, coco, baião, xaxado e vaneirão.
Figura 6. Quadrilha

Figura 7. Instrumentos Musicais: Bumbo, Sanfona e Triângulo
    Samba de Roda. O samba de roda recebeu a influência portuguesa e no Brasil teve a introdução da viola e do pandeiro. Acompanhado por atabaques, ganzá, reco-reco, viola e violão conforme figuram 9, o solista entoa cantigas, seguido em coro pelo grupo a dançar. Ligado ao culto de orixás e caboclos, à capoeira, o samba de roda é misto de música, dança, poesia e festa que se revela em duas formas características: o samba chula e o samba corrido.
    A chula, uma forma de poesia, é declamada pelo solista, enquanto o grupo escuta atento e se rendendo aos encantos da dança. Após o término do pronunciamento, quando um participante por vez adentra o meio da roda ao som da batucada regida por palmas. Já no corrido, o samba toma conta da roda ao mesmo tempo em que dois solistas e o coral se alternam no canto. Também conhecida como Umbigada – porque cada participante, ao sair da roda, convida um novo para a dança dando-lhe um “encontrão de barriga” (Figura 8).
Figura 8. Umbigada

Figura 9. Instrumentos musicais: atabaque, violão, viola, reco-reco e pandeiro
    Pau-de-fita. Ou dança das fitas é uma dança folclórica coreografada originária da Europa. A coreografia desenvolve-se como uma ciranda de participantes que orbitam ao redor de um mastro central afixado no chão – dança de roda conforme figura 10. No topo do mastro são presas as pontas de longas fitas coloridas, cuja extremidade pendente é sustentada por cada dançante. Durante a dança e a movimentação dos dançarinos em translação e em zigue-zague em torno do mastro central, as fitas vão sendo trançadas, encurtando a parte pendente até que fique impossível prosseguir. Faz-se após o movimento contrário, destrançando as fitas. Há variações na música e instrumentos por causa da regionalização. No Brasil tem grande popularidade durante as festas de Reis, do Divino, do Natal, do Ano-bom. Também é encontrada em vários pontos do país, recebendo nomes diversos: trancelim (Crato - Ceará) e dança-do-trancelim (Cariri, Ceará), dança-das-fitas (São Paulo), dança-da-trança, dança-do-mastro ou trança-fita (Minas Gerais), vilão (Pernambuco e interior de Minas Gerais).
    Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, é também conhecido como trançado, engenho ou moinho. Também chamada jardineira e trança esta dança se disseminou nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, dançada especialmente durante festejos de origem açoriana, gaúcha, alemã e festas juninas. Em Santa Catarina é sempre precedida pela jardineira; no Rio Grande do Sul é dançada juntamente com a jardineira e o boizinho. No Rio Grande do Norte aparece no final do bumba-meu-boi, com o nome de engenho-de-fitas. Na Amazônia é parte da dança-do-tipiti. A dança de pau-de-fita tem como instrumentos principais a gaita gaúcha e as violas conforme ilustrado nas figuras 7 e 9.
Figura 10. Pau-de-Fita
    Carimbo. Seu nome, em língua tupi, refere-se ao tambor com o qual se marca o ritmo, o curimbó (Figura 11). Costumam estarem presentes também os maracás. Surgida em torno de Belém na zona do Salgado (Marapanim, Curuçá, Algodoal) e na Ilha de Marajó, passou de uma dança tradicional para um ritmo moderno, influenciando a lambada e o zouk.
    A dança é apresentada em pares. Começa com duas fileiras de homens e mulheres com a frente voltada para o centro. Quando a música inicia os homens vão em direção às mulheres, diante das quais batem palmas como uma espécie de convite para a dança. Imediatamente os pares se formam, girando continuamente em torno de si mesmo, ao mesmo tempo formando um grande círculo que gira em sentido contrário ao ponteiro do relógio. Nesta parte observa-se a influência indígena, quando os dançarinos fazem alguns movimentos com o corpo curvado para frente, sempre puxando com um pé na frente, marcando acentuadamente o ritmo vibrante.
    A música que acompanha a dança carimbó é a preferida pelos pescadores marajoaras. Nos anos 60 e 70, adicionaram-se ao carimbó instrumentos elétricos (como guitarras) e influências do merengue e da cúmbia. A formação instrumental original do carimbó era composta por dois curimbós: um alto e outro baixo, em referência aos timbres (agudo e grave) dos instrumentos; uma flauta de madeira (geralmente de ébano ou acapú, aparentadas ao pife do nordeste), maracás e uma viola cabocla de quatro cordas, posteriormente substituída pelo banjo artesanal, feito com madeira, cordas de náilon e couro de veado. Hoje o instrumental incorpora outros instrumentos de sopro, como flautas, clarinetes e saxofones conforme ilustra figura 12.
Figura 11. Dança Carimbó

Figura 12. Instrumentos Musicais: clarinete, saxofone, guitarra, flauta de madeira, curimbó e viola cabocla
    Candomblé. As danças do candomblé oriundas da religião africana, muito encontrada na região nordeste e sudeste do Brasil, são estruturadas em coreografias executadas no xirê, termo este utilizado para denominar a sequência na qual os seus deuses são reverenciados ou invocados durante os cultos a eles destinados. É também chamado de Roda dos Orixás. Primeira entre todas é aforma do círculo, a antiga roda sagrada (Figura 13), que pode ser encontrada em várias culturas; de fato, em todas as danças estáticas, os dançarinos rodam em torno de um centro, ao tempo em que rodam também sobre si mesmos num duplo movimento de rotação e translação.
A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981: 214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes às divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.
    É interessante observar que as danças estáticas rodam em sentido anti-horário, esta direção é tomada em quase todas as danças sagradas do mundo, talvez porque abre a brecha entre sagrado e profano, simbolizando a volta à origem. As danças começam em um grande e lento círculo que vai diminuindo ao longo do ritual com voltas sobre si, durante as incorporações, a simbolizar uma direção para o interno. Como o círculo, a espiral é um símbolo antiquíssimo. A espiral aparece nas rotações que as filhas-de-santo fazem sobre si mesmas. Os instrumentos mais utilizados na dança do candomblé são os atabaques, berimbau, xequerê e agogô (Figura 14).
Figura 13. Roda de Candomblé

Figura 14. Instrumentos musicais: berimbau, agogô e xequerê e os atabaques rum, rumpi e lê
    Dança da Capoeira. A Capoeira é uma luta disfarçada em dança, criada pelos escravos trazidos da África nos navios negreiros para o Brasil. Dentro das Senzalas após a mistura das culturas das diversas tribos africanas que aqui se encontraram foi documentada como o resultando na primeira forma de defesa dos escravos contra as maldades que sofriam o qual começaram a ocorrer as primeiras fugas dos negros e a fundação dos Quilombos.
    Na época da escravidão toda cultura negra era reprimida, principalmente se tivesse uma conotação de luta, então para poder ser disfarçada a sua prática entre os negros, foi adicionado os instrumentos musicais que deram uma imagem de dança a Capoeira (Figura 15), com músicas que falam de Deuses africanos, Reis das tribos a qual vieram, fatos acontecidos na roda de Capoeira, acontecimentos e sofrimentos do dia-a-dia dos escravos e etc...! Como ninguém tinha interesse sobre a cultura negra, ninguém notava que aquela simples dança, brincadeira e ritual era na verdade a luta marcial dos escravos, que se camuflava para poder permanecer ativa. A orquestra dos grupos de capoeira é geralmente configurada com três berimbaus sendo: um berimbau berra-boi ou gunga com uma cabaça maior e que reproduz o som grave, do lado direito um berimbau gunga ou médio feito com uma cabaça média e de som intermediário, do lado esquerdo um berimbau viola com uma cabaça menor que reproduz um som agudo (Figura 16). Ao lado do gunga vão por ordem o atabaque, um pandeiro (Figura 9) e um agogô (Figura 14), já ao lado do viola vão: outro pandeiro e um reco-reco (Figura 9).
Figura 15. Dança da Capoeira

Figura 16. Berimbaus: Berra boi, Gunga e Viola
    Danças indígenas. As danças indígenas tem um grande significado para os seus praticantes, são expressões culturais em forma de um ritual de agradecimento às divindades espirituais indígenas pela farta colheita de suas plantações, pela fartura da caça e da pesca (Figura 17), tal qual a dança tradicional Parichara de Roraima da comunidade indígena Canauanin Kabixaku Kanau'wau. As danças indígenas também podem ser formas de expressões sociais de paz, de guerra e me amadurecimento para o casamento tais quais as danças da tribo dos Xavantes.
Figura 17. Dança Tradicional Parichara
    Da-ño're. Performance Xavante de dança e canto coletiva em círculo. Assim como ocorre em outros cerimoniais, membros das principais classes de idade participam à prática do da-nho’re. É composta de dois times que compõem cada metade ágama, que começam suas respectivas performances em extremidades opostas do anel de casas dispostas em forma de ferradura; a partir daí, seguem direções contrárias, parando para cantar e dançar nos pátios de determinadas residências. Acústica e visual, a performance põe em destaque a oposição e a rivalidade entre classes de idade de metades ágamas opostas, particularmente quando os dois grupos cantam e dançam em frente de casas vizinhas próximas aos vértices do semicírculo de casas (Figura 18).
    Como forma de comportamento expressivo, o da-nho’re é masculino por excelência, ainda que as mulheres também o executem em certas ocasiões. Constitui a mais importante das atividades públicas específicas em que os pré-iniciados moradores da casa dos solteiros, conhecidos como wapté e os rapazes recém-iniciados chamados de ‘ritai’wa se envolvem enquanto membros de classes de idade. Performances da-nho’re engendram laços emocionais extraordinariamente fortes entre os que delas participam ilustrando de forma concreta a força da dança circular entre os praticantes.
Figura 18. Dança Xavante Da-nho’re
    Os instrumentos musicais indígenas são confeccionados artesanalmente e podem ser encontrados nos mais diversos tamanhos e formas são eles: apito, flauta, pau de chuva, zunidor, chocalho, maraca, dentre outros (Figura 19).
Figura 19. Instrumentos musicais indígenas: apito, flauta e pau de chuva Guarani, maracá Xavante, zunidor Mehinaku e chocalho Kayapó
    Dança Circular Sagrada. As Danças Circulares sempre estiveram presentes na história da humanidade, nascimento, casamento, plantio, colheita, chegada das chuvas, primavera, morte e refletiam a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas. De 1976 em diante centenas de Danças foram incorporadas ao repertório inicial e o movimento passou a se chamar "Danças Circulares Sagradas". E desde então este movimento se espalhou pelo mundo.
    A Dança Circular se chama e se torna Sagrada pelo fato de permitir que os participantes entrem em contato com sua essência, com seu EU Superior, com a Centelha Divina que existe dentro de cada um de nós. No momento deste contato, temos a união do corpo (matéria) com o espírito (energia). A dança quando praticada em academia (Figura 20), geralmente é realizada de mãos dadas e acredita-se que ao dar as mãos em círculo cria-se um fluxo de energia que vai sustentar o campo que se forma com a presença das pessoas e com todos os elementos da natureza presentes no ambiente.
Figura 20. Espaço de Dança Marta Brunelli – Rio Claro - SP
    As modalidades de danças circulares são descritas pelos estudiosos como:
    Danças dos Povos. É a dança dos povos do mundo inteiro, muitas com origem no folclore de cada país, outras tradicionais de comemorações, colheitas retratadas em manifestações populares e inicialmente em âmbito familiar (Figura 21).
Figura 21. Jongo da fazenda Machadinha – Quissamã - RJ
    Danças Meditativas. São dança que através do movimento repetido, pode-se entrar em estado de meditação. Bernhard Wosien chamava de Meditação na Dança (Figura 22). Os ritmos musicais mais usadas são de músicas clássicas, tradicionais e new age.
Figura 22. Dança Medieval
    Danças da Natureza e de Plantas Curativas. Com a evolução do movimento das Danças Circulares, foram surgindo coreografias que reverenciam a natureza e outras que vibram a energia das plantas curativas. Podemos citar Anastasia Geng (1922-2002) da Letônia, que intuiu uma música e uma coreografia para cada um dos 38 florais de Bach, com base no folclore daquela região.
Figura 23. Danças da Natureza e Curativas
    Danças Contemporâneas. São danças coreografadas por dançarinos da atualidade, algumas para músicas tradicionais, outras para músicas contemporâneas, com base nos passos e nos movimentos de cada tradição, tais como as danças alemãs, italianas, portuguesas tradicionais coreografadas para shows e festas típicas, conforme figura 24.
Figura 24. Dança Contemporânea
    O objetivo maior da dança circular é a saúde do ser humano.
    Conforme a definição da Organização Mundial da Saúde – OMS estar saudável é um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não apenas a ausência de doença ou enfermidades. No mundo globalizado o stress é o distúrbio mais comum encontrado nas sociedades urbanas e em menor número nas rurais, são eles: hipertensão, doenças cardíacas, asma, úlceras, colite, diabetes, câncer, artrite, ansiedade, neuroses, enxaquecas, dores localizadas de coluna e joelhos. As formas de entretenimento social estão voltadas a grupos de pessoas que se identificam em um ponto convergente, seja esse uma atividade esportiva, uma apresentação musical, a prática de dança ou de reuniões religiosas e ou intelectuais, com o objetivo de sair da pressão causada pelas atividades rotineiras do seu dia-a-dia.
    O ponto de concordância mais forte entre as escolas de meditação e danças circulares é a importância de se reexercitar a atenção e alcançar o relaxamento. Meditação e relaxamento são coisas diferentes: em essência, a meditação é o esforço para reexercitar a atenção. É isso que dá à meditação os efeitos incomparáveis de obtenção de conhecimentos, aumento da concentração e capacidade de relacionar-se com empatia. A meditação é então usada como uma técnica rápida e fácil de relaxamento. Como proposta de entretenimento, a dança circular vem alcançando grande número de curiosos de todas as idades. Esses novos alunos descobrem em sua prática que, a tensão muscular está intimamente relacionada com a tensão mental e emocional. Quando se aprende que através da dança o alongar e o relaxar dos músculos proporciona um alívio e bem-estar que talvez nunca tenha vivenciado antes, o praticante desenvolverá seus próprios padrões de defesa característicos, que se expressarão em sua postura física, em seus movimentos coordenados e em um comportamento mais calmo perante a vida e em suas relações.
    Nós somos responsáveis pela nossa vida e o que fazemos dela, como disse Augusto Cury em seu livro “Você é Insubstituível” nascemos já no sufoco agora é procurar viver com qualidade e feliz!
    ...Hoje você procura lugares calmos e sem tumulto; naquela época, ninguém o seguraria na barriga de sua mãe. Queria dar a cara ao mundo. De repene... Incrível! Abriram a porta. Você nasceu! Todavia, espere! O mundo começou a desabar sobre você. Aspiraram seu nariz, amassaram você, a luz agrediu seus olhos. Você suspirou: “Que sufoco!”... (Augusto Cury, Você é Insubstituível – 2006).
Referências
  • ALBRIGHT, Peter (1998) O Livro Completo de Terapias Complementares, São Paulo – SP; Nobel.
  • AZEVEDO, Ricardo (2000) Armazém do Folclore, São Paulo – SP: Ática.
  • BORGES, Caroline de Miranda (2010). Influências do mundo na música brasileira. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo.http://www.efdeportes.com/efd142/influencias-do-mundo-na-musica-brasileira.htm
  • BUARQUE, Cristovam (2001), Caminhos da Solidariedade – Incentivos sociais: a solidariedade do estado, São Paulo – SP: Gente.
  • CASCUDO, Luis da Câmara (2012), Dicionário do Folclore Brasileiro, São Paulo – SP: Global.
  • COBRA, Nuno (2004) A Semente da Vitória, São Paulo – SP: SENAC.
  • CURY, Augusto (2006) Você é Insubstituível, Rio de Janeiro – RJ: Sextante.
  • GHAROTE, Manohar (2000) Técnicas de Yoga, São Paulo – SP: Phorte.
  • GOLEMAN, Daniel (1999) A Arte da Meditação, Rio de Janeiro – RJ: Sextante.
  • LABAN, Rudolf (1978) Domínio do Movimento, São Paulo – SP: Summus.
  • LAROUSSE (1998) Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Rio de Janeiro – RJ: Plural.
  • MAUSS, Marcel (1994), As Técnicas Corporais. Sociologia e Antropologia, São Paulo: EPU.
  • MENDONÇA, Marcos (2001) Caminhos da Solidariedade – Cultura um sinônimo de esperança, São Paulo – SP: Gente.
  • QUEIROZ, Renato (2001) As Invenções do Corpo: Modernidade e Contra modernidade, São Paulo – SP: Motriz.
  • RIBEIRO, Darcy (1995) O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil, São Paulo – SP: Cia das Letras .
  • RODRIGUES, Marcos Rojo (2002) Yoga Aplicada da Teoria à Prática, São Paulo – SP: Phorte.
  • SILVA, Paulo Roberto (2006) Consciência e Abundância, Niterói – RJ.
  • TOBIAS & SULLIVAN (1998) O Livro do alongamento completo, São Paulo – SP: Manole.
Web
  • Arte Indígena do Brasil, Instrumentos Musicais Indígenas, http://www.iande.art.br/loja/instmusicais.htm (consultado em 27/08/2013)
  • Danças Circulares – RJ, Um pouco de história, www.dancascircularesrj.com.br/50.html (consultado em 27/08/2013)
  • Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, Nossas Danças, http://www.foirn.org.br/povos-indigenas-do-rio-negro/nossas-dancas/ (consultado em 27/08/2013)
  • Parichara Wapichana Kanauanim Roraima, postagem de 12 de julho de 2010, http://paricharakanauau.blogspot.com.br/2010_07_01_archive.html (consultado em 26/08/2013)
  • Povos Indígenas no Brasil, Organização Social e Cerimoniais Xavante, http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xavante/1164 (consultado em 27/08/2013)
Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 184 | Buenos Aires, Septiembre de 2013
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Binóculo de moeda: Outono.

Binóculo de moeda: Outono.: Os adjetivos mudavam. As árvores se despiam mais uma vez. Centenas de guardanapos viravam poesia. Copos eram jogados goela abaixo em busc...

sexta-feira, 22 de março de 2013

A DANÇA COM UMA PRÁTICA DE SOCIALIZAÇÃO, EDUCAÇÃO E SAÚDE


Projeto Estadual de Educação e Cultura para escolas públicas



Caroline de Miranda Borges
Engenheira Mecânica - UNIFEI
Especialista em Engenharia da Qualidade - Anhanguera
Especialista em Produção 6 Sigmas – Black Belt – FDG
 Pesquisadora de Danças Brasileiras – UNESP
Bailarina e Produtora – Cooperativa Cultural Brasileira

OBJETO

Com o intuito de avaliar os resultados físicos, pessoais e familiares dos alunos na faixa etária de 6 a 12 anos foi desenvolvido entre os anos de 2004 a 2009 na Escola Estadual Monsenhor Martins da cidade de Rio Claro – SP, um projeto de dança que envolveu a disseminação de ritmos com o acompanhamento físico-motor e que cujos resultados foram registrados e abordados nesse trabalho de pesquisa.
O objetivo das aulas foi focar as necessidades de brincar, vencer limites e medos, onde toda criança era submetida a desafios rítmicos a partir do momento que fosse percebida a possibilidade do sucesso. A função do professor nessa atividade foi destacar os pontos fortes de cada criança e colocá-los em evidência, isso irá fortalecer a autoestima criando maiores possibilidades de vitória.
As relações pessoais foram tratadas com técnicas de interação entre pares e grupos com jogos de concentração, habilidades motoras finas e brincadeiras de descontração e concentração.
As relações familiares foram trabalhadas através de oficinas de pais com a participação dos alunos com o objetivo de aproximação. As atividades desenvolvidas foram facilitadoras das descobertas pessoais no campo artístico que agregaram informação, cultura e lazer para todos participantes.
As relações escolares foram tratadas de forma prioritária e pré-requisito para participação do projeto e teve como objetivo principal a construção de uma imagem exemplar para disseminação de bom comportamento, disciplina, orgulho e autoconfiança.


JUSTIFICATIVA

Com a experiência de mais de 30 anos como professora de dança contemporânea, tive com esse projeto, a prova maior de que a cultura e a educação pressupõem responsabilidades fundamentais do Estado, Município e Federação, mais principalmente da comunidade, que a partir de ações voluntárias e simples pode ser capaz de transformar vidas e obter resultados concretos, fundamentados em saúde e bem estar social. Não atinge apenas as crianças, mas envolvem também as famílias, escola e comunidade em um limite de atuação muito maior do que a sala de aula.
O homem moderno precisa entender que as coisas que hoje são consideradas perda de tempo, são na verdade um ganho real. Ganha tempo e qualidade de vida quando, em uma aula de dança, o aluno consegue expor os seus sentimentos, existe esse momento de imersão no movimento que isola a pessoa do resto do universo, afastam-se os problemas, as angústias, os medos e direciona o indivíduo a um repouso mental em busca de um equilíbrio, além dos ganhos fisiológicos do desenvolvimento do aparelho cardiovascular. (Nuno Cobra, 2004).
Quanto mais o indivíduo estiver envolvido com o seu corpo físico, mais estará relaxando seu corpo mental e desenvolvendo seu corpo emocional e espiritual. Um dos melhores métodos para alcançarmos à calma e a serenidade é a meditação e o relaxamento com visualização. (Janine Goossens, 2004)
A forma física é determinada por muitos fatores, tais como: tipo físico, gênero, concentração de gordura, tônus muscular e postura, de acordo com cada indivíduo. Ainda assim todas as pessoas sofrem pressão da mídia para se adaptarem a um estereótipo de beleza. (Maxine Tobias e John Patrick Sullivan, 1998)
A necessidade cada vez maior de melhoria da comunicação entre adultos e crianças nos dias de hoje vem se intensificando devido as novas tecnologias que retiram nossos jovens do convívio familiar e os abandonam diante da tela de computador. A forma de relação e sociabilidade desse mundo capitalista e da geração Y com seus Ipods, Notebooks, Ifones, Ipads, Itouchs intensificam os problemas de violência, medos, transtornos comportamentais e distorcem o sentido da educação com os valores humanos. As metas pessoais e profissionais desses jovens deixam de ser reais para se tornarem cada vez mais virtuais e impossíveis de se alcançar. Todo esse dilema resulta em decepção, desilusão, derrotismo e muitas frustrações seus super-heróis só existem virtualmente.
Quando se trabalha com sentimentos, expressões, capacidades físicas e intelectuais descobre-se um caminho que leva ao autoconhecimento e consequentemente ao equilíbrio. Com os jovens mais equilibrados, conhecedores de seus talentos e limites, será mais efetivo o alcance de resultados positivos na aprendizagem. A realidade mostra que o indivíduo procura primeiro uma melhor qualidade de vida pra ele e pra sua família. (Heloísa Bernardes, 2003).
A parceria entre tecnologia e educação, corporal e intelectual, deve despertar o interesse da juventude a fim de desenvolver metodologias de aplicação facilitadoras, que possam medir o desempenho do aluno de forma a obter valores mais exatos e estimulantes que levarão a motivação e continuidade da atividade.  Atualmente os engenheiros de som, de iluminação, técnicos de palco com seus simuladores e estruturas gigantescas, as academias e clínicas de estética e de reabilitação motora demonstram o quão vasto é o mercado de engenharia com foco em cultura, artes e qualidade de vida.
Para que os valores básicos que sustentam nossa sociedade moderna sejam passados aos nossos jovens é necessário convencê-los e retirá-los da zona de conforto adicionando desafios pessoais, corporais, psicológicos e intelectuais que a dança trás, para que com as experiências de sucesso e as dificuldades superadas, possam ser referências norteadoras para um futuro melhor e mais humano.
Já é evidenciado que o trabalho direto nos órgãos do corpo e o trabalho com o sistema nervoso autônomo, estão envolvidos diretamente na manutenção e promoção da saúde psicofísica do ser humano. O trabalho do sistema nervoso central que governa o aspecto espiritual da personalidade finaliza esse triângulo de equilíbrio físico, psico e espiritual. (Gharote, 2000).
A dança traz ao ser humano uma forma de expressão da essência onde o sentimento é energia propulsora que transforma o movimento corporal em arte final. Na dança é preciso aprender a perder muitas coisas, tais como: medo, vergonha, insegurança, limites, pois busca-se ultrapassar o normal, o lógico, o atingível para transformar indivíduos em agentes disseminadores de alegria, poder e cultura. Enquanto houver crianças alegres falando, floreando, fluindo e influindo no amor da humanidade ainda teremos esperança. Haverá vida pulsando por baixo do abismo da violência. (Artur da Távola, 1983).
Metodologia
A metodologia aplicada nas aulas iniciais foi baseada nas técnicas de estudo do movimento de Rudolf Laban, dançarino, coreógrafo austríaco, considerado como o maior teórico da dança do século XX e como o "pai da dança-teatro" onde o professor é o condutor e espelho para os alunos. As aulas são demonstrativas, expositivas e contemplativas onde os alunos após observar os movimentos tentam a seu modo repetir e demonstrar suas habilidades.
A metodologia aplicada nas aulas avançadas de dança contemporânea vem dos movimentos e ideias de Martha Graham, dançarina americana, coreógrafa e reconhecida como a “mãe da dança moderna”. As expressões teatrais, performances de grande sentimentalismo e uma profunda relação entre respiração e movimento levam as crianças a um melhor conhecimento corporal, traduzindo em relaxamento e demasiada alegria.
Para as aulas de relaxamento e alongamento a técnica utilizada foi de Daniel Goleman, psicólogo, jornalista e escritor com grande sucesso em Inteligência Emocional onde as crianças procuravam através da meditação uma melhoria contínua da postura, do condicionamento físico, do controle da respiração e do equilíbrio corporal.

Os passos desenvolvidos no projeto foram:

1 – Divulgação e Inscrição
2 – Entrevista com os pais ou responsáveis
3 – Análise dos exames médicos solicitados: ortopedia, cardiologia
4 – Divulgação da lista de aptos e dos horários das aulas
5 – Início da aulas – Conhecimento e apresentação
6 – Avaliação do desempenho individual
7 – Montagens coreográficas com foco em identificar pontos fortes do grupo e individuais
8 – Avaliação do desempenho do grupo
9 – Oficinas de desenvolvimento de criatividade, habilidade motora fina e concentração
10 – Oficinas de desenvolvimento familiar participativo – Pais e alunos
11 – Aulas disciplinares e que envolvem comprometimento e responsabilidades uns com os outros
12 – Formatura – Apresentação final do grupo



DESENVOLVIMENTO

Para início das atividades foi necessário uma reunião geral a qual envolveu a direção da escola, os oficineiros e os professores voluntários para a avaliação do espaço dedicado ao evento, os assuntos que seriam abordados e o material a ser disponibilizado só após a definição desses itens que foi iniciado o planejamento e divulgação do projeto.

A metodologia aplicada para divulgação e seleção de alunos para o projeto foram:

            1ª – Comunicação aos professores da escola o objetivo do projeto.
            2ª - Coleta de informações, junto aos professores, das crianças com maiores dificuldades em: concentração, relacionamentos e disciplina.
            3ª – Informação aos pais de alunos o objetivo do projeto, a disponibilidade de vagas, os horários de aulas e modalidades.
            4ª – Abertura das inscrições e seleção dos alunos.
            As inscrições foram abertas por uma semana para todas as faixas etárias, meninos e meninas, sem nenhum tipo de filtro. Para fazer parte do grupo a criança teria que querer participar.
            5ª – Entrevista com os responsáveis pela criança.
            Uma vez a criança inscrita os pais ou responsáveis eram chamados para entrevista com o professor de dança para que ficasse claro que a participação da família era pré-requisito para o desenvolvimento da criança no ballet. As mães ficariam responsáveis pela confecção e montagem das fantasias de apresentação da criança e que uma vez realizada a inscrição não poderiam deixar de cumprir a sua parte. Com isso ficaria fechado um acordo entre professor e pais quanto a participação dos mesmos nas oficinas e apresentações do filho.
            6ª – Análise dos laudos médicos.
            Os alunos aprovados deveriam passar por uma avaliação médica de um ortopedista e um cardiologista para liberação da participação das aulas de dança.
            7ª – Divulgação dos selecionados.
            Finalizadas as etapas acima a lista dos aprovados foi então disponibilizada no quadro de aviso da escola e uma carta enviada aos pais de alunos informando os horários de aula.

O planejamento das aulas para o grupo de alunos iniciantes e para o grupo de alunos avançados teve a preocupação em dividir os mesmos por faixa etária onde as dificuldades físicas e motoras pudessem ficar menos evidente.

1 – Planos de aula
1.1 – Aulas Iniciantes: O planejamento das aulas iniciais de dança se resumia em:
A - Distribuir de forma facilitadora o grupo de crianças para que os menores ficassem na frente e os maiores atrás para facilitar a visualização dos movimentos expostos pelo professor.
B - Realizar chamada para reconhecimento de cada integrante do grupo.
C - Implantar de forma democrática um uniforme a ser utilizado e cobrar o uso durante as aulas.
D - Observar individualmente cada aluno e descrever em um caderno de anotações suas habilidades.
E - Apresentar de forma teatral os ritmos brasileiros como informação cultural. Vide conforme figura 1 a apresentação  do grupo iniciante em uma festa junina da escola retratando forró com as figuras de Maria Bonita e Lampião representadas pelos alunos.

                                         
                                                      Figura 1 – Ritmo: Forró

F - Utilizar músicas nacionais e próprias para idade de cada grupo evitando músicas que deprimem e que carregam preconceitos e descriminação.
G - Todas as crianças devem receber atenção de forma igualitária
H - Duração de 1 hora/aula sendo dividida em: 5 minutos de chamada, 5 minutos de preparação muscular e tendões, 10 minutos de coordenação motora, 10 minutos de correção postural e técnica, 20 minutos de coreografia e estudo do movimento e finalizando 10 minutos de alongamento e meditação.

1.2 – Aulas Avançadas: O Planejamento das aulas avançadas de dança se resumia em:
A – Chamada
B - Estudo do Movimento – técnicas de Laban
C – Coreografia
D - Estudo interpretativo – Martha Graham
E - Aperfeiçoamento postural e alongamento
F - Relaxamento e controle respiratório – Daniel Goleman
G - As informações musicais e culturais eram expostos por profissionais específicos de cada ritmo trazendo a cultura popular para dentro da escola, tais como a Catira, a Folia de Reis, o Forró pé de serra, a Quadrilha, o Samba, maracatu, bumba meu boi, etc.
Conforme figura 2 os alunos do grupo intermediário de aulas avançadas apresentaram o forró pé de serra fantasiadas de damas antigas segundo os bailes originais do início do século XX.



                                                    Figura 2 – Forró Pé de Serra

H - Foram também abordados ritmos estrangeiros tais como: o tango, a rumba, o flamenco, a dança do ventre, dentre outros.
I - Duração da aula: 1 hora e 30 minutos que se dividia de acordo com cada tema abordado.

2 – Oficinas
2.1 – Oficinas Infantis - As oficinas oferecidas para as crianças tinham como objetivo o desenvolvimento motor e a coordenação motora fina. As aulas envolviam automaquiagem conforme figura 3, autopenteado e montagem de acessórios de fantasias tais como: colares de contas, tranças postiças, montagem de chapéus, coroas, brincos, cocares, etc.

                                                  Figura 3 – Oficinas de automaquiagem

2.2 – Oficinas de Pais - As oficinas oferecidas para os pais, com a participação dos filhos alunos, tinham como objetivo a interação entre as partes com a descoberta de habilidades pessoais e a valorização do trabalho em grupo. As aulas desenvolvidas foram de corte e costura, tinturaria, montagem de acessórios e bordados, sendo todas elas voltadas para confecção de fantasias para apresentação nos eventos escolares da cidade e região – conforme figura 4.


                                                             Figura 4 – Oficinas de pais


3 – Aulas de Campo
As aulas de campo tiveram como objetivo a orientação comportamental em um ambiente desconhecido destacando a necessidade da disciplina, da autoajuda e do compartilhamento do conhecimento e habilidade. Com isso foram realizadas atividades tais como: Caminhada da Família, Participação de Festivais de Dança da Região, Participação de Eventos Sociais do SESI e da EPTV com objetivo social, cultural e de entretenimento familiar – conforme figura 5.



                               Figura 5 – Festival Regional de Dança 2007 – SESI – Rio Claro - SP

4 – Aulas Profissionalizantes
Com o objetivo de incentivar a continuidade do projeto e dar uma oportunidade de carreira e sustentabilidade familiar foram desenvolvidos alguns cursos profissionalizantes para os pais e alunos acima de 15 anos, tais como: pintura em tecidos, desenho artístico, Ajudantes de camarim, Ajudantes de palco, maquiadoras, montagem e modelagem de fantasias – conforme figura 6 – Fantasias confeccionadas em oficinas de pais – Tema “Sítio do Pica Pau Amarelo”


                               
                                    Figura 6 – Grupo de Fantasias do Sítio do Pica Pau Amarelo

5 – Aulas de Cultura Tradicional Brasileira
Aulas práticas de ritmos específicos brasileiros, pouco divulgados na mídia e que serviram de fonte documental para artigos técnicos de registro acadêmico. As aulas eram desenvolvidas por profissionais que atuavam na área abordada, que tinham vivência e história no ritmo em questão – Conforme figura 7 – Catireiro Fernando Basso do Grupo Catira Brasil. As músicas eram tocadas nos instrumentos específicos de cada ritmo e cantadas pelos próprios professores.


                                                        Figura 7 – Aulas de Catira


Com essas aulas foi criado o primeiro grupo de Catira mirim criado dentro de uma escola pública no estado de São Paulo, o grupo foi denominado “Grupo de Catira Mirim Tradições Paulista” – conforme figura 8 – Divulgação do Projeto Catira na Escola e Encontro Nacional de Catira em 2008.


  
                                               Figura 8 – Grupo Mirim Tradições Paulista


6 – Formatura
A formatura anual teve o objetivo de apresentar para a escola e aos pais o resultado do trabalho desenvolvido durante todo o ano. Os alunos receberam certificado de participação entregue pelos pais no dia do evento, fortalecendo a relação familiar e demonstrando a satisfação do trabalho realizado em grupo.
As formaturas realizadas foram:

2004 – O Fantasma da Ópera – Figura 9
Local – Teatro da Escola Estadual Chanceler Raul Fernandes


                                                      Figura 9 – 1ª Formatura 

2005 – O Circo e a Dança – Figura 10
Local – SESI Rio Claro - SP


                                              
                                                              Figura 10 – 2ª formatura

2006 – Projeto Estadual Escola da Família foi finalizado e a Escola Monsenhor Martins foi municipalizada mas a escola se apresentou em vários eventos por toda região onde recebeu apoio da prefeitura e deu continuidade ao projeto – Figura 11.

              
                            Figura 11 – Sacode a Praça 2007 – Lago Azul – Rio Claro - SP

2007 – Mundo Mágico – figura 12
Local – SESI – Rio Claro - SP




                                                          Figura 12 – 3ª formatura


2008 – Cultura Brasileira na Escola – figura 13
Sacode a Praça – Parceria EPTV e SESI


                                                     Figura 13 – Projeto Catira na Escola

2009 – Músicas daqui Ritmos do Mundo – figura 14 – Ópera e figura 15 - Vira
Local – SESI – Rio Claro - SP


 










   Figura 14 – da Itália a Ópera                                                    Figura 15 – de Portugal o Vira



AVALIAÇÃO

Os relatos dos pais quanto à diminuição das visitas ao médico mostrou que a doença é um porrete que serve para chamar a atenção e informar que algo não está normal no nosso corpo. A partir do momento que a criança passa a fazer mais alongamentos, exercícios físicos coordenados, trabalhos cardiovasculares e relaxamentos seu organismo deixa de sinalizar. Isso é a criança fica mais saudável.  (Daniel Goleman, 1989)
Segundo depoimentos de pais de alunos pode-se identificar essa melhora:
    “... meu filho era muito miúdo, tomava remédios para desmaios e febre agora é um menino muito esperto, ativo, alegre, não vai mais ao médico com frequência e não reclama mais de dores no corpo...”
    “... minha filha é outra criança, amadureceu, aprendeu a trabalhar em grupo, a obedecer a regras, depois de emagrecer 10 quilos e crescer 15 cm em 10 meses tornou-se uma criança participativa, comunicativa, alegre e minha relação com ela hoje é muito mais saudável...”
    “... minha filha era uma criança deprimida, chorava com facilidade, não fazia amizade facilmente, era muito tímida e depois que iniciou o balé passou a ficar mais falante, mais feliz, emagreceu 5 quilos, cresceu 10 cm, na escola ficou popular, sua autoestima melhorou. Ia ao médico duas vezes ao mês agora só vai uma vez ao ano para controle dos triglicerídeos que atualmente está normalizado...”


CONCLUSÃO

Os resultados alcançados pelo projeto em se tratando do corpo físico e mental comprovam que os estudos do interno e do externo para a terapia corporal estão interligados, não mais separados como até hoje vinha sendo estudado pela medicina, cuidando apenas dos sintomas. Nunca é tarde para começar, crianças com tratamentos de síndrome do pânico, desmaio febril, depressão, baixa imunidade, etc. tiveram grande melhora segundo relatos médicos e dos pais. Tornaram-se crianças alegres, saudáveis e muito ativas.
Da análise final do projeto, conforme ilustrado na figura 16 conclui-se que:


                                     Figura 16 – Gráfico Desempenho de alunos na Dança Moderna

          - Medo e timidez: caem no primeiro ano cerca de 30% e continua caindo até chegar a 90% no último ano.      o.      Deve-se observar que a relação entre o medo e a timidez se manteve por volta de 30%.

- Sociabilidade: teve uma queda pequena nos primeiros anos em cerca de 10% mas com  melhoria em 80% no último ano comparado ao início do projeto, esse resultado indica que há a necessidade de um trabalho a médio e longo prazo para se ter um resultado efetivo.
                       
- Rendimento escolar: teve uma melhora em 100% partindo de uma média escolar de 42 e chegando no último ano com uma média de 83.
                       
- Saúde: a saúde geral da criança foi medida pelo número de consultas médicas realizadas e visitas a postos de saúde e hospitais e foi observado melhoria em 100%  dos alunos, saindo de um absenteísmo escolar de 25%  e chegando a zero.
                       
- Relações familiares: O número de relatos dos pais com relação a brigas, castigos, violência doméstica inicialmente era em 18% e no final do projeto caiu a 2 relatos, uma melhoria em 90%.


          REFERÊNCIAS

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AGUIAR, Carmen (1998), Educação, Natureza e Cultura Um Modo de Ensinar, São Paulo – SP: USP
ALBUQUERQUE, Leila (2001), Fragmentos para uma Sociologia do Corpo. São Paulo – SP: Motriz
BERNARDES, Heloisa (2003), Chique é ser saudável, São Paulo – SP: HLB Editora
COBRA, Nuno (2004),  A Semente da Vitória, São Paulo – SP: SENAC
GHAROTE, Manohar (2000), Técnicas de Yoga, Phorte, São Paulo – SP: Phorte
GOLEMAN, Daniel (1999), A Arte da Meditação, Rio de Janeiro – RJ: Sextante
LABAN, Rudolf (1978), Domínio do movimento, São Paulo – SP: Summus
MAUSS, Marcel (1994), As Técnicas Corporais. Sociologia e Antropologia, São Paulo: EPU
QUEIROZ, Renato (2001), As Invenções do Corpo: Modernidade e Contra modernidade, São Paulo – SP: Motriz
TÁVOLA, Arthur (1983), Do Amor Ensaio de Enigma, Rio de Janeiro: Nova Fronteira
TOBIAS & SULLIVAN (1998), O Livro do alongamento completo, São Paulo – SP: Manole